Minha visão sobre 'Minha História' de Michelle Obama
- Letícia Simões
- 26 de set. de 2022
- 3 min de leitura
A obra ' Minha história' de Michelle Obama é uma junção de três narrativas de sequência cronológica. As quais, inclusive, poderiam ser publicadas separadas como uma trilogia. Apesar do leitor tender a ter uma afeição a uma ou outra parte e do livro se fazer volumoso em número de páginas, a escrita não é enfadonha e traz curiosidade quanto aos próximos acontecimentos. Os capítulos possuem uma metragem razoável e apresentam espaçamento entre parágrafos, dando uma pausa na sequência das cenas descritas. Para quem aproveita alguns minutos do almoço, por exemplo, e não tem tempo de ler o parágrafo todo, se beneficia desse artifício.
É válido destacar a genuinidade da obra. E provavelmente o prazer pela mesma aumenta com o grau de identificação.
Em um primeiro trecho, a autora explana o seu desenvolvimento em um bairro de Chicago e conta em detalhes o processo de marginalização do mesmo, fazendo-nos refletir a injustiça ao binômio negro-pobre. Na minha opinião, trata-se da parte mais leve do livro porque você se conecta sem esforço com uma garotinha questionadora e insistente e vibra facilmente com as suas conquistas. A permanência de Michelle e sua família em um bairro que soava cada dia mais negro não impediu que ela se graduasse em Princenton e Harvard, iniciando a sua trajetória de ser a primeira mulher negra em algum espaço.
E o que ela tinha de tão especial que a diferenciava de seus colegas do mesmo bairro? Uma rede de apoio. Faz questão de enfatizar os sacrifícios dos pais, mesmo com uma condição financeira precária e o convívio do pai com a esclerose múltipla. Eles não são espelho de pessoas bem sucedidas, mas são exemplo de pais que contradizem a tradição. E isso estimula a vontade de nadar contra a maré.
Muitas mulheres se veem em Michelle. Umas, conviveram com todas as suas questões, incluindo as raciais. E outras, como eu, se veem também em um bairro marginalizado, com a vontade de nadar contra a aceitação das limitações sociais, econômicas e ancestrais. É o fazer diferente mesmo que soe como querer parecer ser branca ou querer parecer ser melhor que os outros.
Na segunda parte, quem se identifica com as suas origens e lutas já tem a carteirinha de fã. E nesse ponto já conheceu Barack Obama. Sem ofuscar a sua amada, ele dá todo um tom especial para a segunda parte e para a vida de Michelle. Um amante dos livros (o que já o torna anos luz mais fascinante). Sonhador nato, futuro advogado de Harvard como sua futura esposa, vivia a leveza da vida real. E que clímax o pedido de casamento para quem não se importava com a formalidade do relacionamento. Bom, com o enlace matrimonial, Barack ganha mais espaço na narrativa. E é nesse ponto que talvez uma feminista feche o livro e rasgue a sua carteirinha. Um absurdo, aquela mulher fodona (perdoem-me pelo termo) que não sentia nenhum remorso ao dispensar namorados que interferissem em sua carreira, se ajustar ao patriarcado e se diminuir em prol dos desejos do seu marido. Sim, em partes é difícil lidar com o peso que a mulher tem em uma família, principalmente quando se é mãe. Entretanto, enquanto algumas pessoas enxergam um declínio, eu vislumbro coragem. De reconhecer que quer ser mãe e esposa. E principalmente, reconhecer que a sua maior conquista não te trazia felicidade. É preciso muito peito para sair do emprego ideal, reduzir os ganhos financeiros e prestígio em troca de mera felicidade. Quem não se identifica realmente se revolta. E nessa, eu tô com Michelle.
A terceira narrativa trata-se do contexto presidencial. O mais pesado, para mim, porque me fez odiar ainda mais a política, suas artimanhas sujas e seus cansativos extremos (vermelho e azul). Confesso que os fatos da campanha me soaram agonizantes. Porém, logo uma reflexão torna-se fundamental em nossas vidas. Na fala "Se você não assume uma posição, os outros rápida e imprecisamente definem uma posição para você". Não podemos permitir que o lado obscuro da política sabote a importância desta como meio de defesa aos nossos interesses. E de uma forma ou outra precisamos afirmar uma posição, do contrário, seremos refém dos interesses alheios.
A horta da casa branca e a questão da obesidade infantil são destaques. Como enfermeira e mãe, não posso deixar de destacar a temática. Nós nos tornamos marionete da indústria alimentícia e farmacêutica. Fontes de lucro ao prezarmos a liberdade e praticidade da nossa alimentação que nos encaminham para um pacote de doenças crônicas acompanhado de uma caixa de remédios. Na tentativa de sermos saudáveis ainda somos golpeados pela manipulação de produtos light, diet e afins. O mais inadmissível é a permissão desse contexto em torno das nossas crianças. Mais uma vez Michelle sendo corajosa.
É óbvio que recomendo a leitura do livro. E ouso afirmar que sou uma Michelle. No caso (sem desespero ou indiretas) só me falta um Barack Obama (risos).
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