A heteronomia do posicionamento político
- Letícia Simões
- 3 de out. de 2022
- 2 min de leitura
Na época escolar preferia os livros de ficção aos livros de história do Brasil e mundo. E nestes, me chamava mais atenção, os gregos, egípcios e romanos. Lembro da professora ler sobre a ditadura enquanto acompanhávamos as frases com o olhos, também me recordo de uma figura do Lula estampada em um dos meus livros da escola. Fechava a maioria das questões, mas pouco refletia sobre os impactos de tal conhecimento em minha vida. A ideia era seguir a premissa de que um bom boletim me faria capaz de ir para uma faculdade e conseguir um bom emprego. Afeiçoada ao português, ciências e ao desejo de uma vida diferente das pessoas próximas a mim, não tive tantas dificuldades em chegar ao nível superior da saúde.
Falando nisso, só conheci a verdadeira história e face do SUS na universidade, na teoria e prática. Por que na escola não temos essa oportunidade? Por que as pessoas não conhecem seus espaços de participação?
Por que as pessoas preferem sair com uma solução rápida na mão do que buscar melhores condições de saúde, moradia, saneamento?
Como me fez falta pensar.
Hoje, confesso que me sinto uma leiga em questões políticas. E o assunto muito me enoja. Os debates se tornaram entretenimento e fonte de um arsenal de memes da internet (que realmente nos fazem sorrir um bocado). As propagandas televisionadas confundem. A intenção era falar dele ou do outro candidato?
Poderia respirar aliviada por não estar sozinha, mas isso muito me angustia. Em minha rede social observei o des-posicionamento da maior parte das pessoas.
Contemplo discursos, que constituem-se em mera reprodução de conteúdos da internet.
Me lembram a minha filha e sobrinha no carro falando sobre Bolsonaro repetindo falas dos adultos, sem nada compreender.
Cabos eleitorais robôs (de ambos os lados). Coerência, respeito e postura são mínimos.
Cenário asqueroso.
Se diz a favor da democracia, mas posta "Se você é anti Bozo, não jogue seu voto fora com NINGUÉM"; "Abstenções, nulos e branco são uma vergonha" (leia-se, deveria ter votado no Lula)
Se diz a favor da liberdade e da vida, mas chama de mito um propagador de ódio e exclusão. Que possui uma proposta de governo com visual e escrita mais atraentes, no entanto, pouco compatíveis com seu discurso e suas ações.
Escrevo na consciência que um dia eu também assumi essa posição.
Claro que é importante posicionar-se. Afinal de contas, a política trata-se de um jogo de interesses. O que quero colocar em pauta é o fato de que as pessoas perdem a compostura ou se contradizem em seus próprios princípios. E o que é pior, ao meu significado, muitas não lembram ou pouco sabem sobre a história do país. E no fundo nem se importam. São meras reprodutoras do marketing eleitoral de cada candidato. Talvez por uma ótica mais madura, parece-me que a democracia está ( em maior intensidade) perdendo espaço para ações extremistas, égide dos governos autoritários.
Acredito que mais importante do que levantar uma bandeira, é ser autônomo da sua ideia. Manter a sabedoria de distanciar-se, dando espaço para a ideia do outro, por mais doída que ela possa ser (para você). Quem sabe, de longe ele consiga se identificar ao enxergar melhor as nuances de seu emblema.
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